Trama golpista: na primeira sessão de julgamento, defesas pedem absolvição total de Mauro Cid, Ramagem, Garnier e Anderson Torres
Defesa de Mauro Cid diz que ele não sofreu coação para delatar trama golpista
Trama golpista: na primeira sessão de julgamento, a defesa de Mauro Cid foi a primeira a se pronunciar. Afirmou que ele não sofreu coação para fazer a delação premiada e que a equipe da Polícia Federal teve postura ética. Os advogados negaram a acusação da PGR de que Cid participava ativamente das discussões golpistas, e afirmaram que ele apenas cumpriu as funções do cargo de ajudante de ordens de Jair Bolsonaro.
“O que há efetivamente nos autos é que Mauro Cid jamais elaborou, compartilhou e citou qualquer conteúdo golpista. Que não há, sequer, uma única mensagem de sua autoria propondo, incentivando ou validando qualquer atentado contra a democracia ou contra o sistema eleitoral. O que há, excelência, é o recebimento passivo de mensagens no seu WhatsApp, das quais ele sequer fazia repasse, porque o WhatsApp tem esse sistema de ‘recebe e reenvia, recebe e reenvia’. Nem isso Mauro Cid fez nas suas mensagens. Ou seja, a acusação confunde um vínculo funcional com subserviência, como conduta criminosa, não passando de meras suposições”, disse Cezar Roberto Bitencourt, advogado de Mauro Cid.
Os advogados informaram que Mauro Cid solicitou a transferência para a reserva do Exército por não ter condições psicológicas de atuar como militar, e pediram a manutenção dos benefícios obtidos com a delação.
Defesa de Ramagem diz que documento com ataques a urnas eletrônicas eram apenas anotações
A segunda defesa a ocupar a tribuna foi a do diretor da Abin no governo Bolsonaro, Alexandre Ramagem. Ele é deputado federal e, por isso, ficou livre, neste julgamento, de duas acusações de crimes cometidos depois da diplomação. O advogado usou a mesma lógica para pedir a suspensão também da acusação de organização criminosa armada.
"Segundo a denúncia, as atividades dessa organização criminosa se perpetuou até 8 de janeiro, momento no qual Alexandre Ramagem já havia sido diplomado deputado federal", disse Paulo Renato Garcia Cintra, advogado de Alexandre Ramagem.
O advogado alegou que os documentos com ataques a urnas eletrônicas eram apenas anotações que Ramagem não enviou a Jair Bolsonaro.
“Não há elementos nos autos, elementos de informação, elementos de prova, que demonstrem que esses documentos tenham sido transmitidos ou entregues ao então Presidente da República. Não há. Alexandre Ramagem não atuou para orientar o Presidente da República, Alexandre Ramagem não era um ensaísta de Jair Messias Bolsonaro”, disse Paulo Renato Garcia Cintra.
A defesa de Ramagem pediu que as provas obtidas pela Polícia Federal sobre a Abin paralela não sejam usadas neste julgamento, sob a alegação de que o Ministério Público ainda não terminou a análise.
Defesa diz que PGR não conseguiu provar quando o almirante Garnier aderiu aos golpistas
A defesa do ex-comandante da Marinha Almir Garnier afirmou que a PGR não provou quando o almirante teria aderido à trama golpista e qual teria sido o papel de cada réu na execução dos crimes de que são acusados. O advogado de Garnier disse que a delação de Mauro Cid tem omissões e contradições.
“É possível convalidar essa delação ou ela tem que se rescindida? Se ela tem que ser rescindida, e hoje, eu vi uma ginástica feita pelo procurador-geral da República para tentar dizer que se ela for rescindida, os fatos permanecem hígidos. Então, os senhores vão ter que decidir isso, porque a proposta feita por ele é de mitigação do acordo. É preciso que haja o nexo causal individualizado. Não pode acontecer de se ter uma narrativa globalizante. Todo o processo tem que ter uma individualização, embora o crime seja multitudinário. No caso daqueles que supostamente fazem parte desse núcleo, tem que se deixar claro exatamente o que foi que eles fizeram”, disse Demóstenes Torres, advogado de Almir Garnier.
Defesa de Anderson Torres diz que 'minuta golpista' não tem valor de prova
O último advogado a falar nesta terça-feira (2) foi o do ex-ministro da Justiça Anderson Torres. Eumar Novacki disse que não há provas que liguem Torres à trama golpista e alegou que a minuta encontrada na casa dele não tem valor de prova:
“Essa minuta estava circulando na internet e vinha sendo distribuída desde dezembro de 2022, muito antes de ser encontrada na residência de Anderson Torres. Essa minuta, à qual foi dado um peso descomunal de prova, não tem valor algum. Era uma minuta apócrifa que não fazia qualquer sentido, uma minuta que nunca circulou e que nunca foi discutida”, disse Eumar Novacki, advogado de Anderson Torres.
O advogado negou que Anderson Torres tenha se eximido de responsabilidade ao viajar para os Estados Unidos às vésperas do ataque de 8 de janeiro, quando era secretário de Segurança do Distrito Federal. Novacki apresentou documentos no telão:
“É um diálogo de Anderson Torres com Fernando, seu substituto, no dia 7. Ministro, cabe lembrar que a Secretaria de Segurança Pública nunca ficou acéfala. No dia 7, Anderson Torres foi tranquilizado pelo seu sucessor. Está lá: está tudo controlado”.
Os advogados de Anderson Torres, Almir Garnier, Alexandre Ramagem e Mauro Cid pediram a absolvição dos clientes de todas as acusações. O defensor de Garnier também apresentou como alternativa que se aplique o princípio da consunção. Ou seja, o crime de golpe de Estado seria absorvido pelo crime de abolição violenta do Estado Democrático de Direito.
Nesta quarta-feira (3), advogados vão apresentar as defesas do general Augusto Heleno, do ex-presidente Jair Bolsonaro, do general Paulo Sérgio Nogueira e do general Walter Braga Netto.
LEIA TAMBÉM
Trama golpista: o que pode acontecer com Bolsonaro e outros sete réus em caso de condenação?
Traduzindo: por que o julgamento da trama golpista foi dividido em núcleos
JN mostra quais são as acusações e o que dizem as defesas do núcleo crucial da trama golpista
Julgamento do golpe: sem protestos, STF tem segurança reforçada com drones; filhos de Bolsonaro fazem vigília em condomínioFONTE: https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2025/09/02/trama-golpista-na-primeira-sessao-de-julgamento-defesas-pedem-absolvicao-total-de-mauro-cid-ramagem-garnier-e-anderson-torres.ghtml